A vida é um risco. Um salto longe demais para as nossas
pernas, um pequeno alvo num quarto escuro. Mas eu sou capaz, eu consigo, eu
consegui. Depois de meses sem sinais de vida e completamente isolado de tudo, a
felicidade por voltar a ver pessoas sanas pode não ser grande, mas pelo menos
senti-me aliviado quando o esquadrão de combate me pôs um cobertor pelas costas
e me esconderam num armazém, onde adormeci ao som de tiros e gritos humanos,
que depois de tanto tempo tinham-se tornado tão relaxantes.
Mas ainda via os cadáveres e ainda sentia o sangue a ser-me
espirrado para a minha pele, onde o seu calor parecia algo tão bom como insano.
Ao respirar ainda sentia aquele fedor a entranhas enquanto corria o mais rápido
possível, ainda o sentia bem no fundo dos meus pulmões, desgastados, que se
encontravam agora ofegantes.
Como sobrevivi? Bem, isso é uma longa e sangrenta história.
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