domingo, 16 de fevereiro de 2014

Estive Sempre A Teu Lado - Parte I

Este é o mundo em que vivemos. As escolas dividem-se em grupos e grupinhos, de pessoas fixes, cientistas e nerds, geeks, raparigas lindíssimas viciadas em maquilhagem e roupa, rapazes skaters, os baldas, que como podem calcular são os que nunca pisam o terreno escolar o ano todo. E depois existem rapazes como eu. Eu sei que não sou o único no mundo, eu sei que não devo ser o único no mundo com este problema, mas afecta-me viver assim, é como se clicasse na pausa na vida e estivesse literalmente à espera para conhecer o meu destino, como se estivesse na fila da cantina, mas o menu do dia fosse o futuro, com sopa de legumes.
Um miúdo olha o céu, enquanto chove, enquanto todos gozam com ele. A chuva molha os seus caracóis jovens e humedece a áspera mochila de linho. Quase que me podia pôr na situação dele, sendo que não me arriscaria a passar uma humilhação como a que ele está a passar, senão os mais velhos ainda me batem por isso…
- Miguel! – Um rapaz mais velho bate-me nas costas
- Então, vais almoçar hoje? – Perguntou-me um rufia que não reconheço, por detrás dele está Ricardo, o meu primo, rindo-se com mais dois amigos, ouvindo a nossa conversa
Queria responder-lhe, mas a voz faltou, sinto picadas no corpo inteiro, o medo corre-me nas veias
- Almoça connosco – Esse rufia, fazendo cara séria, convida-me, enquanto os outros desatam a rir
- Um pouco de respeito pelo nosso caro convidado – Disse o Rufia, sendo irónico, claro que entendo, não sou assim tão burro…
Sentando-me entre eles, eles roubam-me a sobremesa, despenteiam-me o cabelo, despejam água na minha sopa e na minha comida. É verdade que dói, mas que posso eu fazer senão conformar-me? Mais dois anos e saio daqui, e aí serei livre. Deixarei para trás estas pessoas que não têm vida, e apenas me darei com boas pessoas, simples e sinceras, sem necessidade de serem superiores a ninguém.
- Oh Miguel, não comeste nada hoje – Disse a empregada, olhando para o meu tabuleiro
- E esta água? – Perguntou-me
- Ao ir à pasta cotovelei o copo e enchi o prato de água sem querer – Menti
- Tem cuidado para a próxima – Pousei o tabuleiro

Ouvem-se risos, e eu sei que são para mim. Lágrimas batem nos recantos dos olhos, mas homens não choram, os homens nunca choram.

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